O cortejo religioso, consagrado na forma de procissão ou romaria, encontra-se intimamente associado ao culto particular de uma imagem e pode revestir inúmeras particularidades na forma como é concebido. Característica comum é o facto de se dirigir a uma entidade mística, podendo-se afirmar que, a partir do momento em que se desenvolveu, na Antiga Lusitânia Ibéria, uma prática iconolatra, terão surgido as primeiras deambulações sagradas.
Este costume ter-se-á mantido ao longo dos séculos, intensificando-se na Idade Média já sob a égide do Cristianismo, assumindo o cortejo religioso um carácter expiatório, através do qual se procuravam banir as doenças, epidemias e enfermidades várias, sempre que estas ameaçavam um determinado povoado. Eram as designadas “procissões de penitência”, de que é exemplo a célebre “procissão dos passos”, realizada anualmente no dia de Sexta-feira Santa. De acordo com o P.e Miguel de Oliveira, esta prática religiosa, que chegou aos nossos dias, foi primeiramente instituída em Lisboa na segunda metade do século XVI, tendo-se expandido a partir daí a todo o Reino.
De facto, todas as igrejas paroquiais do Concelho de Ferreira do Zêzere conservam o seu Senhor dos Passos, imagem de roca geralmente de grandes dimensões, vestida com um manto púrpura cingido por cordão e cuja cabeça é recoberta por uma farta cabeleira de fios verdadeiro. O efeito cénico/dramático é uma das principais características desta procissão, que é reforçada pelo carácter realista que transmite a própria imagem: Cristo, coroado de espinhos e no extremo das suas forças, transporta a cruz com que irá ser crucificado; o joelho em terra, o corpo coberto de chagas e a cara martirizada e lívida contribuem para acentuar a imagem do martírio e sofrimento de Jesus.
Para além da Procissão dos Passos, muitas das povoações ferreirenses comemoram o dia do seu santo padroeiro pelo menos uma vez por ano, data que é assinalada, sempre que a disponibilidade monetária o permite, por festejos que se prolongam durante um ou mais dias. A animação desenvolve-se geralmente em torno do templo, por vezes em estruturas especialmente construídas para o efeito, revertendo as receitas em benefício de obras sociais paroquiais. O momento mais importante da celebração é a missa em louvor do santo, continuada pela respectiva procissão: a imagem sai então do altar para cima do andor e, seguida pelo pároco, pelos populares e pela banda filarmónica que toca a marcha solene, percorre um determinado percurso que culmina no templo.
Porém, existem certos cortejos religiosos que se caracterizam pela concentração de populares que reúnem, a maior parte dos quais proveniente de diferentes povoações, vizinhas ou distantes, mas que prestam culto a uma mesma imagem sagrada. A estes cortejos convencionou-se dar o nome de “romarias” (etimologicamente, “ir a Roma”, a procissão mais antiga) e, ao templo para o qual confluem, “santuários”.
A principal finalidade de qualquer romaria é o pagamento de uma promessa colectiva, sendo o seu cumprimento concretizado através da própria deslocação dos fiéis em direcção ao respectivo santuário, que assim se manifesta como um verdadeiro pólo de atracção que é preciso vencer, muitas das através de um caminho sinuoso, extenuante e quase inacessível. Em Ferreira do Zêzere, apenas a Igreja de Nossa Senhora do Pranto de Dornes é considerada lugar de santuário, ao qual afluem anualmente vários “círios”, isto é, grupos de romagens compostas pelos habitantes de várias povoações e que visitam o templo em colectivo. De acordo com José Leite de Vasconcelos, a designação de círios (aplicada a romagens do mesmo tipo em outros santuários da Estremadura) deve-se ao facto de, inicialmente, e ainda no começo do século XX, cada grupo de romeiros transportar o resíduo do círio pascal que ardera durante a Semana Santa na igreja paroquial da respectiva povoação. De facto, na sacristia da Igreja de Nossa Senhora do Pranto de Dornes, ainda se conservam, guardados nas respectivas caixas de madeira mas deficientemente identificados e datados, os círios de algumas das povoações que participam nesta romaria.
Este costume ter-se-á mantido ao longo dos séculos, intensificando-se na Idade Média já sob a égide do Cristianismo, assumindo o cortejo religioso um carácter expiatório, através do qual se procuravam banir as doenças, epidemias e enfermidades várias, sempre que estas ameaçavam um determinado povoado. Eram as designadas “procissões de penitência”, de que é exemplo a célebre “procissão dos passos”, realizada anualmente no dia de Sexta-feira Santa. De acordo com o P.e Miguel de Oliveira, esta prática religiosa, que chegou aos nossos dias, foi primeiramente instituída em Lisboa na segunda metade do século XVI, tendo-se expandido a partir daí a todo o Reino.
De facto, todas as igrejas paroquiais do Concelho de Ferreira do Zêzere conservam o seu Senhor dos Passos, imagem de roca geralmente de grandes dimensões, vestida com um manto púrpura cingido por cordão e cuja cabeça é recoberta por uma farta cabeleira de fios verdadeiro. O efeito cénico/dramático é uma das principais características desta procissão, que é reforçada pelo carácter realista que transmite a própria imagem: Cristo, coroado de espinhos e no extremo das suas forças, transporta a cruz com que irá ser crucificado; o joelho em terra, o corpo coberto de chagas e a cara martirizada e lívida contribuem para acentuar a imagem do martírio e sofrimento de Jesus.
Para além da Procissão dos Passos, muitas das povoações ferreirenses comemoram o dia do seu santo padroeiro pelo menos uma vez por ano, data que é assinalada, sempre que a disponibilidade monetária o permite, por festejos que se prolongam durante um ou mais dias. A animação desenvolve-se geralmente em torno do templo, por vezes em estruturas especialmente construídas para o efeito, revertendo as receitas em benefício de obras sociais paroquiais. O momento mais importante da celebração é a missa em louvor do santo, continuada pela respectiva procissão: a imagem sai então do altar para cima do andor e, seguida pelo pároco, pelos populares e pela banda filarmónica que toca a marcha solene, percorre um determinado percurso que culmina no templo.
Porém, existem certos cortejos religiosos que se caracterizam pela concentração de populares que reúnem, a maior parte dos quais proveniente de diferentes povoações, vizinhas ou distantes, mas que prestam culto a uma mesma imagem sagrada. A estes cortejos convencionou-se dar o nome de “romarias” (etimologicamente, “ir a Roma”, a procissão mais antiga) e, ao templo para o qual confluem, “santuários”.
A principal finalidade de qualquer romaria é o pagamento de uma promessa colectiva, sendo o seu cumprimento concretizado através da própria deslocação dos fiéis em direcção ao respectivo santuário, que assim se manifesta como um verdadeiro pólo de atracção que é preciso vencer, muitas das através de um caminho sinuoso, extenuante e quase inacessível. Em Ferreira do Zêzere, apenas a Igreja de Nossa Senhora do Pranto de Dornes é considerada lugar de santuário, ao qual afluem anualmente vários “círios”, isto é, grupos de romagens compostas pelos habitantes de várias povoações e que visitam o templo em colectivo. De acordo com José Leite de Vasconcelos, a designação de círios (aplicada a romagens do mesmo tipo em outros santuários da Estremadura) deve-se ao facto de, inicialmente, e ainda no começo do século XX, cada grupo de romeiros transportar o resíduo do círio pascal que ardera durante a Semana Santa na igreja paroquial da respectiva povoação. De facto, na sacristia da Igreja de Nossa Senhora do Pranto de Dornes, ainda se conservam, guardados nas respectivas caixas de madeira mas deficientemente identificados e datados, os círios de algumas das povoações que participam nesta romaria.
Altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Pranto, em Dornes
Na documentação antiga relacionada com o Concelho Ferreira do Zêzere, surgem algumas anotações referentes às romarias a Nossa Senhora do Pranto, de que são exemplo os apontamentos de Frei Agostinho de Santa Maria no seu Santuário Mariano (1712): «Tornando pois à historia da Senhora de Dornes ou do Pranto, como hoje he invocada, a primeyra igreja, que edificou Guilherme de Pavia por mandado da Santa Rainha, serve hoje de capella mór ao templo, que depois se lhe edificou. Porque pelos annos de 1453, reynando em Portugal El-Rey D. Affonso o V, sendo commendador daquela commenda Gonçalo de Sousa & vendo a pequenez daquella casa, levado do zelo da honra de Nossa Senhora se resolveo a crescentarlha mais, para que tambem pudessem caber nella os muytos que continuamente vinhão a venerar aquella sagrada imagem da Senhora. (…) Ha naquella casa alguns quarenta cirios de varias Irmandades de differente terras & alguns delles de cera fina, & o mais tem a dez & a quinze arrobas de pezo cada hum. Cada huma destas terras vem todos os annos em solenne procissão àquella Senhora, aonde lhe fazem festa com missa & sermão, & deixão grandes offertas».
Actualmente, os círios de Dornes concretizam-se entre a Segunda-Feira de Pascoela e o 3º Domingo de Setembro, sendo o cortejo religioso organizado do seguinte modo: na manhã do dia estipulado, os romeiros concentram-se na igreja paroquial da sua povoação. Aí, o pároco celebra uma missa e, em seguida, os participantes iniciam, em ritmo lento, a viagem em direcção a Dornes. À frente, junto do pároco, vai o pendão (geralmente com a imagem da Senhora do Pranto e o nome da freguesia bordado) erguido por um dos organizadores do círio. A cerca de 2 quilómetros de Dornes, ao longo da estrada que se desenvolve do Casal da Mata até ao Santuário de Nossa Senhora do Pranto, inicia-se a Via-Sacra, formada por 14 cruzeiro de pedra, o penúltimo dos quais se ergue à entrada da Vila. Junto de cada uma das estações as pessoas param para rezar, ritual que faz parte do cumprimento da promessa. Chegados à Igreja de Nossa Senhora do Pranto, é realizada uma missa campal no adro do templo, finda a qual os devotos permanecem no interior da igreja rezando e cumprindo votos particulares.
Por fim, refira-se que, para além de Dornes, também a Capela de São Pedro de Castro constituiu, no passado, um verdadeiro local de santuário, mas actualmente as antigas romarias já não se concretizam. A estes cortejos se referem as Memórias Paroquiais do Padre Luís Cardoso: «S. Pedro de Castro, era hum oiteyro junto do Rio Zezere que administra o fabricario e a provem com esmolas que lhe dam os romeyros que a esta concorrem. (…) A ermida de S. Pedro nos tempos passados acolhia muitas romagens por todo o anno, mas principalmente em dia do seu santo, em dia de S. Miguel e em dia de Todos os Santos».
Actualmente, os círios de Dornes concretizam-se entre a Segunda-Feira de Pascoela e o 3º Domingo de Setembro, sendo o cortejo religioso organizado do seguinte modo: na manhã do dia estipulado, os romeiros concentram-se na igreja paroquial da sua povoação. Aí, o pároco celebra uma missa e, em seguida, os participantes iniciam, em ritmo lento, a viagem em direcção a Dornes. À frente, junto do pároco, vai o pendão (geralmente com a imagem da Senhora do Pranto e o nome da freguesia bordado) erguido por um dos organizadores do círio. A cerca de 2 quilómetros de Dornes, ao longo da estrada que se desenvolve do Casal da Mata até ao Santuário de Nossa Senhora do Pranto, inicia-se a Via-Sacra, formada por 14 cruzeiro de pedra, o penúltimo dos quais se ergue à entrada da Vila. Junto de cada uma das estações as pessoas param para rezar, ritual que faz parte do cumprimento da promessa. Chegados à Igreja de Nossa Senhora do Pranto, é realizada uma missa campal no adro do templo, finda a qual os devotos permanecem no interior da igreja rezando e cumprindo votos particulares.
Por fim, refira-se que, para além de Dornes, também a Capela de São Pedro de Castro constituiu, no passado, um verdadeiro local de santuário, mas actualmente as antigas romarias já não se concretizam. A estes cortejos se referem as Memórias Paroquiais do Padre Luís Cardoso: «S. Pedro de Castro, era hum oiteyro junto do Rio Zezere que administra o fabricario e a provem com esmolas que lhe dam os romeyros que a esta concorrem. (…) A ermida de S. Pedro nos tempos passados acolhia muitas romagens por todo o anno, mas principalmente em dia do seu santo, em dia de S. Miguel e em dia de Todos os Santos».
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