sábado, 23 de maio de 2009

Capelas de Águas Belas


Pelourinho pertencente à antiga Vila de Águas Belas

A história da freguesia de Águas Belas remonta ao final do século XII quando, em 1191, D. Sancho I doa a sua herdade de Orjães a Pedro Ferreira, besteiro do rei e homem de modesta condição, o qual se teria distinguido por actos de bravura e heroísmo na defesa de Montemor-o-Novo. No entanto, por volta de 1206, parte desta herdade é adquirida por Pedro Alvo, pretor de Tomar, que aí vem a fundar a povoação de Águas Belas que, a partir de 6 de Dezembro de 1356, é convertida em morgado, instituído na pessoa de Rodrigo Álvares Pereira (irmão consanguíneo de D. Nuno Álvares Pereira e filho de D. Álvaro Gonçalves de Pereira), com todas as suas dependências, senhorio, couto, honra, jurisdição e padroado da Igreja de Nossa Senhora. Mais tarde, a 3 de Março de 1513, e na sequência da elaboração dos Forais Novos da Estremadura pelo rei D. Manuel, Águas Belas é elevada à categoria de Vila, estatuto que preservaria até 1836, data em que é incorporada no novel Concelho de Ferreira do Zêzere, em cujos limites administrativos ainda hoje se mantém. Actualmente, é a quinta maior freguesia da região ferreirense, ocupando uma área total de 18.56 Km2, na qual habitam aproximadamente 1140 habitantes, distribuídos pelos seguintes lugares: Águas Belas; Águas Belas-a-Velha; Barção; Bela Vista; Benfica; Besteiras; Boavista; Camarinha; Carvalhal; Casal da Bica; Casal Fundeiro; Casal Novo; Casal do Varela; Casalinho; Casas Novas; Congeitaria; Cumbada; Freixial; Grabulha; Lameiros; Mata; Outeiros; Palheiros; Penas Alves; Pinheira; Porto da Romã; Rio Fundeiro; Sobreiras; Travanca; Vale; Vale do Olival; Vale Perro; Vale de Rojais; Vales; Varela; Varelinha; Venda da Serra. No que se refere à expressão do culto religioso nesta Freguesia, refira-se que, para além da presença marcante da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, demoradamente estudada na crónica anterior, existem as Capelas de Santa Teresa nas Besteiras, de São Sebastião na Varela e a arruinada Capela de Santo António no Solar da Família Peres. Porém, chegou-nos igualmente notícia de outros dois templos, hoje extintos, dedicados a Santo António e a Nossa Senhora do Vale. De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, o primeiro situar-se-ia na Quinta da Alegria e o segundo no Vale, sendo por esta altura Manuel de Araújo, residente na Quinta da Figueira (Freguesia de Pias), administrador deste último templo.

Quanto à Capela de Santo António, pertencente ao Solar da Família Peres, já em 1758 se encontrava arruinada, mas provavelmente terá sido reconstruída mais tarde, caso contrário nada dela restaria actualmente. A estrutura remanescente apresenta-se como um pequeno templo de planta longitudinal e nave única, que ainda preserva a sua cobertura em telhado de duas águas. A fachada principal é constituída por um portal de lintel contracurvado, sobre o qual se ergue um pequeno óculo circular. Pela lateral direita rasga-se uma entrada secundária, sobrepujada por uma fresta rectangular. No que se refere às Capelas de Santa Teresa e de São Sebastião, estas apresentam-se actualmente reabilitadas e nelas se presta regularmente o culto aos respectivos oragos.
  
A Capela de Santa Teresa localiza-se no centro do lugar das Besteiras, mas goza de um péssimo enquadramento, em virtude do novo edifício que lhe foi adossado e que serve de centro de convívio por altura das festas em honra da santa padroeira. De facto, é evidente o anacronismo existente entre a capelinha de formas singelas e o volume esmagador desta nova construção, resultando daí um conjunto não harmónico que prejudica gravemente a leitura estética do edifício religioso. Para além disso, e em virtude das várias campanhas construtivas a que este templo tem vindo a ser sujeito, o pequeno volume saliente a que normalmente corresponde a sacristia, expandiu-se de forma a ocupar parte da fachada principal do templo, através da qual se acede agora a esta dependência. Na frontaria apenas existe uma pequena janela junto à entrada principal, enquanto que sobre o lado direito do beiral se ergue um pequeno campanário, finamente relevado com ramagens e uma cruz de Cristo.
  
O interior da capela é dominado pelo altar, obra realizada em talha policromada, e no qual foi depositada a imagem de Santa Teresa, recolhida no interior de um pequeno nicho e protegida por vitrina.
 
Já a Capela de São Sebastião localiza-se no lugar da Varela e, apesar de hoje ser difícil precisar qual a origem deste templo, conserva-se na verga da porta da sacristia uma datação correspondente ao ano de 1829, referente a uma possível intervenção na estrutura do imóvel, dado que já em 1758 se lhe encontram referências nas Memórias Paroquiais do pároco José da Mota Ribeiro. Por sua vez, no campanário surge ainda a data de 1867. Do ponto de vista arquitectónico, trata-se de um edifício bem proporcionado, que obedece à tipologia característica dos templos rurais da região, com a sua planta longitudinal de nave única, sala de sacristia saliente, cobertura em telhado de duas águas e campanário sobre o beiral. A fachada principal é simples, constituída por portal, duas janelas e um óculo.
 
Por sua vez, o interior é amplo, bem iluminado, destacando-se na parede fronteira o altar-mor consagrado a São Sebastião. Trata-se de uma imagem esculpida em pedra, exemplar de arte popular quinhentista, a qual se apresenta bastante repintada, representando o santo amarrado a um tronco, mas já sem as características setas que outrora lhe trespassavam o corpo, símbolo do seu martírio. Ladeando o altar-mor, duas mísulas ostentam as imagens de Nossa Senhora de Fátima (lado do Evangelho) e de Santa Teresa (lado da Epístola). Por fim, refira-se que, numa das últimas campanhas de remodelação do templo, o interior desta capela foi revestido por um silhar de azulejos de produção industrial, iguais aos que hoje se encontram na Igreja Matriz de Águas Belas.

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