sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Igreja de São Vicente de Paio Mendes

A Igreja de São Vicente localiza-se no centro do lugar do Castelo, na freguesia de Paio Mendes. O templo remonta muito provavelmente ao ano de 1518, de acordo com a data inscrita num antigo portal, hoje desaparecido, e de que nos dá notícia o tombo de 1607 da Vila de Dornes. De acordo com o referido documento, a capela-mor tinha 12 côvados de comprimento e outros 12 de largura, sendo forra a tábuas de castanho; dela se passava para a sacristia, guarnecida de armários de castanho. Por sua vez, o corpo da igreja tinha de comprimento 36 côvados e de largura 18, era coberto de telha vã e estava por lajear. Na empena da parede da porta principal possuía um campanário com o seu pequeno sino de metal. Para além disso, pelo interior, mais concretamente no altar de São Francisco, existia a seguinte inscrição, hoje desaparecida, reveladora do nome dum instituidor da capela vinculada: «Sepultura de Manoel Vas e de sua mulher Maria Mendes e de seus descendentes». De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, por essa mesma altura a Igreja de Paio Mendes possuía cinco altares: «de S. Vicente, de Nossa Senhora do Rozario, do Espirito Santo, do Senhor Jezus e de S. Francisco; não tem naves nem irmandades».
Actualmente, o templo já pouco preserva do seu traçado arquitectónico original pois, ao longo dos séculos, foi sendo sucessivamente remodelado por várias campanhas construtivas, uma das mais importantes desenvolvida no ano de 1617 e cuja datação aparece inscrita num dos esboços de Alfredo Keil referentes a esta igreja. Aos dias de hoje chegou uma estrutura eclética, de clara inspiração maneirista, sobretudo na disposição dos espaços e volumes, cuja organização obedece à tradicional planimetria longitudinal de nave única. A frontaria, à semelhança da maioria das igrejas paroquiais estudadas, é constituída por um simples portal rectangular, a que se sobrepõe uma janela. Termina a fachada num empena triangular, encimada pela cruz de Cristo, mas interrompida do lado esquerdo pelo volume avançado de uma torre sineira, constituída por um único registo superior onde se rasgam quatro campanários. Acede-se a esta torre, provida de cobertura piramidal, por um lanço de escadas que se desenvolve na sua fachada nascente. Quanto a outras massas salientes do corpo central, refiram-se as duas salas de sacristia que, após cada um dos respectivos portais laterais, se destacam nas fachadas norte e sul do templo, ambas dotadas de cobertura em telhado de uma única água, enquanto que na nave essa cobertura é de duas águas.
Pelo interior, iluminado por duas janelas rectangulares em cada uma das laterais, o pavimento é recoberto a mosaico cerâmico, existindo um passadiço central lajeado que se desenvolve desde a entrada principal até à capela-mor. Acede-se a este espaço por meio de um arco cruzeiro de volta perfeita; no entanto, a cantaria interrompida ao nível da chave do arco sugere que a cobertura da nave central terá descido. Esta é constituída por três planos, não madeirados, enquanto que na capela-mor é abobadada. Como em qualquer igreja paroquial, também na matriz de São Vicente de Paio Mendes existem vários altares, consagrados a diferentes oragos, e que se dispersam pelas laterais, arco cruzeiro e capela-mor do templo. Assim sendo, e ao nível das laterais, existem dois altares, colocados frente a frente, e que se aproximam na sua organização retabular. Ambos são constituídos por um nicho central que se rasga na parede de adossamento, emoldurado por um arco de volta perfeita executado em cantaria. No altar da lateral sul, este arco é ainda enquadrado por um friso entablado que se ergue sobre duas pilastras. Outro factor de aproximação diz respeito ao revestimento azulejar que preenche o frontispício de ambos os altares, e que se apresenta como uma continuidade do silhar aplicado aos muros interiores do templo: trata-se de um tapete de produção industrial, executado nos tons de azul e branco, e que obedece a um módulo de repetição de 2X2/2 unidades; por sua vez, no altar da lateral sul, o revestimento azulejar estende-se por todo o nicho central.
Relativamente ao culto prestado em cada um deste altares, o da parede lateral norte é consagrado a Cristo Crucificado, imagem de vulto talhada em madeira posteriormente policromada, que se sobrepõe a uma pintura executada a óleo sobre tábua. A composição refere-se ao Suplício das Almas no Purgatório que, dirigindo os olhares para Jesus, mas também para Nossa Senhora e São Miguel que o ladeiam, aguardam a sua Salvação. Numa cartela localizada no limite inferior da composição encontra-se uma data referente ao ano de 1629, a par de uma inscrição cujo significado não é perceptível.
Quanto ao altar da parede lateral norte, este é consagrado a São Francisco de Assis e à Santíssima Trindade (0.770m altura), tratando-se esta última imagem de uma obra esculpida em pedra e datada do século XVI, sendo, por essa razão, coetânea da época de fundação do templo.
  
Já no arco cruzeiro localizam-se outros dois altares, ambos executados em talha policromada, sendo o do lado do Evangelho consagrado a Nossa Senhora com o Menino, imagem de roca de grandes dimensões, enquanto que no do lado da Epístola é cultuado o Sagrado Coração de Jesus.
No retábulo-mor, executado em talha dourada e policromada, apenas figura uma recente imagem de São Vicente, já que os padroeiros originais - São Vicente e São Sebastião, obras datadas do século XVI - foram furtados no ano de 2005. A imagem primitiva de São Vicente era esculpida em pedra e media 1m de altura. O espaço da capela-mor é ainda decorado, ao nível da abóbada, por uma pintura mural alusiva ao padroeiro.
Por fim, devem ainda de ser referidas duas obras de cantaria que se encontram no interior deste templo. A primeira, localizada na parede lateral norte, diz respeito a um púlpito, cujo cálice cilíndrico parte de um colunelo provido de anel que serve de pé; a segunda encontra-se na sala de sacristia sul, e consiste num pequeno lavatório renascentista que apresenta talhada, de forma bastante rude, a imagem de um querubim. De acordo com o Inventário Artístico de Portugal, integra o espólio deste templo um Cruz Processional (1.020m altura) de prata do século XVI, com ornamentos gravados no estilo da época, a bola ou nó decorada com cabeças de anjo e os remates da haste e braços torneados delicadamente; porém, a imagem de Cristo que está aposta na Cruz é moderna.

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