sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Igreja do Espírito Santo de Igreja Nova do Sobral

Fundada no ano de 1606, a Igreja do Espírito Santo de Igreja Nova do Sobral tem sido modificada ao longo dos séculos por diferentes campanhas de obras, mais ou menos profundas. A planimetria do imóvel obedece a um esquema longitudinal, de nave única, dotada de cobertura em telhado de duas águas. A fachada principal, de traço claramente maneirista, é rematada por uma empena triangular e apenas ostenta um portal de verga recta, a cujo entablamento se sobrepõe uma grande janela rectangular. Do lado direito, e saliente relativamente a esta fachada, foi adossada uma torre sineira, composta por dois registos, sendo o primeiro constituído, do lado nascente, por um lanço de escadas que permite aceder, simultaneamente, quer à torre, quer ao coro-alto que se ergue, no interior do templo, sobre o pórtico principal. Sob essa escadaria, rasga-se uma porta de lintel semicircular, a partir da qual se acede a uma pequena arrecadação. Já o segundo registo da torre é constituído por quatro arcos campanários, sendo o volume rematado por meio de uma cobertura piramidal.
Na lateral sul do templo, para além da torre sineira, destacam-se os volumes de um corredor e sala de sacristia, dotados de acesso pelo exterior e iluminados por meio de duas janelas rectangulares. São estas massas dotadas de cobertura em telhado de uma única água, sobre a qual se ergue um pequeno campanário disfuncional provido de um relógio de sol. Entre a escadaria de acesso à torre campanária e o corredor de sacristia rasgam-se uma janela e um portal lateral rectangular, cujo lintel termina em entablamento, ao qual se sobrepõe, por sua vez, um frontão invertido que no tímpano tem esculpida uma flor. Por sua vez, também na lateral norte do templo, igualmente provida de portal, se destacam os volumes correspondentes ao baptistério e a uma outra sala de sacristia que serve de apoio à capela-mor.
Pelo interior, a igreja do Espírito Santo apresenta cobertura madeirada em três planos, sendo o pavimento lajeado. O acesso à capela-mor é realizado por intermédio de um arco cruzeiro de volta perfeita e desnível de dois degraus. Também este espaço é iluminado por meio de uma janela localizada na lateral direita. O pavimento é recoberto a mosaico cerâmico, enquanto que a cobertura é abobadada.
  
Constituem o património integrado do templo cinco altares, um púlpito e um baptistério, para além de várias obras escultóricas e pictóricas. O baptistério localiza-se na lateral norte e é dotado de pia baptismal de taça oitavada, que se desenvolve a partir de um colunelo assente sobre anel. Ao portal lateral segue-se, adossado à mesma parede, um púlpito, obra esculpida em pedra calcária de cálice subdividido em caixotões, a que se acede por meio de um lanço de escadas.
 
Também na lateral norte, e seguidamente ao púlpito, destaca-se um retábulo produzido em talha policromada. É este altar consagrado a Nossa Senhora do Rosário, imagem de roca de grandes dimensões, provida de vestes e de uma farta cabeleira, sobre a qual dois anjinhos descem uma coroa de rosas. Na parede oposta, localiza-se um outro altar semelhante ao anterior, mas antes consagrado a Cristo Crucificado, imagem de vulto produzida em madeira policromada que se sobrepõe a uma pintura executada a óleo sobre tábua e que é representativa do suplício das Almas no Purgatório que, olhando para o Redentor, aguardam a sua salvação.
 
Por sua vez, no arco cruzeiro, encontram-se outros dois altares, cujo tratamento retabular é idêntico: o do lado do Evangelho é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus, enquanto que no do lado da Epístola se cultua Nossa Senhora de Fátima.
Relativamente ao altar-mor, este é ocupado por uma magnífica pintura executada a óleo, provavelmente maneirista, mas cujo material de suporte não pude avaliar. Nela é representado o tema do Pentecostes, ou seja, a descida do Espírito Santo, na forma de línguas de fogo, sobre Nossa Senhora e os Apóstolos. É a obra pictórica ladeada por duas pequenas imagens alusivas a Santo António com o Menino (lado do Evangelho) e a São Sebastião (lado da Epístola) que, por sua vez, sobrepujam duas portas através das quais se acede a uma dependência localizada por detrás do altar-mor. Quanto à abóbada da capela-mor, esta foi decorada por pinturas murais que, em Trompe-l’oeil, pretendem reproduzir o Firmamento onde vários anjos ostentam os instrumentos da Paixão, enquanto que, ao centro, outros dois adoram o Santíssimo em exposição. Por fim, uma última palavra deve ser dirigida a respeito do revestimento azulejar que adorna este templo. De acordo com o volume Tesouros Artísticos de Portugal, editado em 1976 pelas Selecções Reader’s Digest, tal revestimento seria do tipo enxaquetado, constituído por azulejos azuis e brancos do século XVII. Actualmente, tais azulejos foram substituídos por outros, de produção industrial e reduzida importância histórica e artística, que em nada se assemelham aos exemplares que, em tempos, revestiram o interior deste templo.

Sem comentários: