Vista sobre a Freguesia de Areias, a partir da Serra de São Saturnino
Não se sabe ao certo em que época terá sido fundada a povoação de Areias, cujo nome deriva, segundo o parecer de diversos autores, dos terrenos arenosos outrora existentes nas suas imediações. A História conta-nos porém que, a partir de 1321 – data em que se processa o reordenamento administrativo da região ferreirense pela recém criada Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo –, a Freguesia de Santa Maria de Areias passa a desempenhar a função de sede religiosa da Comenda de Pias, estatuto que preservaria até ao ano de 1534, data em que é fundada a Freguesia de São Luís das Pias. Apesar de administrativamente dependente da Vila de Pias, a Freguesia de Areias manteria uma relativa autonomia até ao ano de 1836, data em que é incorporada no recém-criado Concelho de Ferreira do Zêzere, em cujos limites geográficos ainda hoje se mantém.
Actualmente ocupa uma área total de 39.24 Km2, sendo por isso a maior freguesia do Concelho, na qual habitam aproximadamente 1772 habitantes distribuídos pelos lugares de: Areias, Aldeia dos Gagos, Avecasta, Barbatos, Barrio, Bijota, Casais, Casal da Farroeira, Casal Novo, Casal da Sobreira, Calçadas, Cidral, Comunais, Daporta, Farroeira, Fonte do Tojal, Fonte da Figueira, Fonte da Lage, Freixial, Gontijas, Horta Nova, Lagoa, Matos, Meneixas, Milheiros, Paço, Pereiro, Pinheiro, Porto Chão, Ponte de Ceras, Ponte das Pias, Portela de Vila Verde, Rego da Murta, S. Domingos, Serra do Balas, Serra dos Balseiros, Telhadas, Tojal, Valadas, Vale do Rodrigo, Venda dos Tremoços e Vila Verde.
No que se refere à expressão do culto religioso na Freguesia de Areias, são remotos os testemunhos que podem ser mencionados, quer através das palavras dos autores, quer através de um olhar mais atento e demorado sobre os templos existentes nesta região.
Entre os cronistas mais antigos que se referem à arquitectura religiosa ferreirense, é de destacar o contributo do Padre António Carvalho da Costa que, em determinada altura, na sua extensa Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal (1712), fez o seguinte apontamento: “Ha nesta freguesia [de Areias] as ermidas seguintes: Santo Amaro no lugar das Gontijas; S. Simão na Aldea dos Gagos; S. Jordão Bispo nas Menechas, a qual se faz pela antiga, que se arruinou, & estava no lugar que chamão S. Jordão, & no alicerce della nascia huma fonte, aonde lavandose os meninos, que tinhão sarna, saravão della; & dizem que ainda a agua da ribeyra, que daqui procede (que he a ribeyra da Murta) tem a mesma virtude. Santo Agostinho do lugar do Rego da Murta; Santa Catherina na Farroeyra; S. Miguel no Tojal; Santa Apollonia nas Telhadas; S. Saturnino na Serra da Guimareyra; S. Thomè na Portella & Santa Eufemia; Santo Antonio na Ponte de Ceras & S. João; o Salvador nos Matos; S. Francisco nos Malheyros; S. João em Avecasta & junto à Torre da Murta esteve huma ermida de S. Jorge, que se arruinou.”
Do extenso rol de templos enunciado pelo Padre Carvalho da Costa, vários foram os que, em melhor ou pior estado de conservação, chegaram aos nossos dias. Porém, outros houve de que não restaram quaisquer vestígios.
Tal é o caso da capela de S. Jordão, primeiramente instituída neste lugar e depois reconstruída nas Menexas, em cujos alicerces corria uma fonte com propriedades curativas. Todavia, prospectando os referidos lugares não foram encontrados indícios da antiga construção, desconhecendo os habitantes mais idosos quaisquer ruínas nas imediações, passíveis de corresponder ao extinto templo de São Jordão.
Também dos templos dedicados a Santo António e a São João, outrora erigidos em local indeterminado perto da Ribeira de Ceras, parece nada restar, e o mesmo se pode dizer da capela consagrada a São Jorge, situada junto da Torre da Murta, que ao tempo do Padre António Carvalho da Costa já se encontrava em ruínas.
Quanto à capelinha de São Miguel, que antigamente se erguia na imponente Quinta da Torre da Murta (hoje Quinta do Tojal), à muito que esta desapareceu. Não obstante, e segundo António Baião, este templo terá sido fundado entre o final do século XV e o princípio do século XVI, pelo 3º Senhor da Torre da Murta, Ambrósio Correia da Silva, filho de Henrique Correia da Silva e de D. Joana de Sousa. Bem mais tarde, a 15 de Janeiro de 1798, seria passada provisão a Nuno Infante de Sequeira Correia da Silva de Carvalho, 10º Senhor da Torre da Murta, para que pudesse realizar, todas as quartas feiras a partir dessa data, um mercado semanal no campo da ermida de São Miguel.
Quanto às Capelas de São Simão e de Santo Agostinho, localizadas nos lugares da Aldeia dos Gagos e do Rego da Murta, ainda hoje é possível visitar, próximo do casario, os seus muros arruinados envoltos pelo matagal. Relativamente ao primeiro templo, António Baião fornece-nos a informação de que este terá sido erigido no ano de 1728, tal como ainda constava, em 1918, da inscrição existente sobre a porta principal.
Situação bem diferente é a que envolve as capelas de Santa Catarina da Farroeira e de Santa Eufémia da Serra do Balas, que o tempo soube preservar, ainda que alienando o seu traço arquitectónico primitivo ou a sua funcionalidade original.
De facto, o templo consagrado a Santa Catarina encontra-se hoje convertido em curral para a guarida do gado e nem mesmo o pequeno adro que existia junto da entrada da capelinha foi preservado, acabando por ser agregado a uma propriedade privada. A frontaria, hoje rebocada a cimento, ostenta sobre o lintel da porta a data de 2000, ano em que provavelmente ocorreu a maior adulteração; não obstante, as paredes laterais da construção deixam ainda perceber os muros de pedra aparelhada que a sustentam. Como a generalidade dos templos da região, também o interior da capela de Santa Catarina seria de nave única, o que se pode deduzir pelas reduzidas dimensões do imóvel. Segundo informações recolhidas no local, a imagem da padroeira manteve-se ainda durante vários anos num oratório particular, que os habitantes regularmente visitavam a fim de manter o culto; porém, decorrido algum tempo até mesmo o orago acabou por ser vendido.
É igualmente interessante a história da capela localizada na Serra do Balas, que alguns dos habitantes locais referem ser de invocação a Santa Eufémia, enquanto que outros desconhecem a sua primitiva dedicação, chegando a apontar diferentes oragos. Não obstante, ainda hoje os antigos terrenos outrora pertencentes a este templo são denominados por “Terrenos de Santa Eufémia”, onde se diz que a imagem primeiramente apareceu. A ser verdade, o pequeno templo poderá corresponder à capela dedicada a Santa Eufémia que o Padre Carvalho da Costa enuncia, mas que coloca no lugar da Portela de Vila Verde.
Independentemente da sua invocação, a capelinha ainda hoje se mantém junto ao casario do lugar, apesar de ter sido adaptada a casa de arrumos. Do ponto de vista arquitectónico, corresponde a um pequeno templo de planta longitudinal e nave única, construído em aparelho de pedra e barro, rebocado por uma argamassa de cal. A cobertura é em telha vã, assente sobre ripado. É a fachada principal antecedida por um lanço de alguns degraus e, ao lado da entrada principal, rasga-se uma pequena janela quadrada, enquanto que sobre o lintel da porta foi aplicada uma cantaria com a Cruz de Cristo esculpida em relevo. No lado direito da empena ergue-se um pequeno arco campanário, hoje disfuncional, junto do qual se destaca um relógio de sol. O interior é igualmente rebocado, existindo na parede frontal algumas pinturas executadas a fresco que decoram três nichos outrora utilizados para a colocação das imagens cultuadas. Por sua vez, o pavimento manteve-se em terra batida, enquanto que no tecto se encontra a descoberto o ripado sobre o qual a telha vã assenta.
2 comentários:
eu gostei achei ótimo parabens bem esplicado com bastante figuras bem legal tudo de bom
Muito bom o artigo. Pena que a maioria das pessoas desses lugares não perservem o rico património deixado pelos seus antepassados...
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