Remonta ao século XIII o início da construção da Igreja de Nossa Senhora do Pranto, templo que, de acordo com a narrativa lendária, é coetâneo da fundação da vila de Dornes, mandada instituir sob o patrocínio da Rainha Santa Isabel. Tal acontecimento é descrito por Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa: «Consta da antiga tradição, que sendo esta terra do dote da Rainha Santa Isabel, e assistindo em Coimbra, Corte então dos nossos Reis, tinha nestas partes por seu feytor a Guilherme de Pavia, homem de tanta virtude e justificada vida, que mereceo o nome de Santo. Era natural de hum lugar, que está no mesmo destricto e se chama o Albardão, onde vivia seu pay, o qual o creou tanto no temor de Deos, procurando instrui-lo em todos os bons costumes e santos exercicios, que sendo moço e não podendo obriga-Io a jejuar, para que forçosamente o fizesse o passara hum dia em hum barco, que tinha da outra parte do rio Zezere, para o ir buscar ás horas que lhe parecesse, e elle lançara a capa no rio, e sobre ella passara d'estoutra banda a pé enxuto.
Viveo este virtuoso varão junto de huma ermida do glorioso S. Guilherme, a qual estava contigua á estrada de Dornes, e ribeira do mesmo santo tomou o nome, de que já fizemos menção. Succedeo que algumas noytes da banda d'alem do rio Zezere, que então eram brenhas e matos muito espessos, ouviu huns gemidos muy dolorosos, os quaes se forão continuando por algum espaço de tempo; e indo Guilherme de Pavia a Coimbra deo conta á Rainha Santa d'esta novidade, a qual já por revelação divina sabia a causa, e lhe disse que buscasse no lugar onde ouvia os gemidos e que ahi acharia huma imagem da Virgem Maria Nossa Senhora com outra de seu Santissimo Filho morto em seus braços, o que elle fez, e entre huns matos, que estavão na aspera serra da Vermelha (que fica da outra banda do rio junto ao Casal de Villagaya, freguesia de Cernache do Bom Jardim e termo da Certã) achara escondida a admiravel e milagrosa imagem que collocou em huma pequena Igreja que a Rainha Santa mandou fazer sobre o penhasco, ficando dividida de huma torre antiga que alli estava e se diz fora obra dos mouros e hum curioso infere seria de Sertorio, que como fez o castello da Certã, faria tambem esta torre para sua segurança, por vir a estrada da Certãa ter a este sitio, servindo-he de ponte a barca de Domes. Porém eu conjecturo ser fabrica dos Cavalleyros do Templo, que por aqui vierão descendo e fundarão o castello de Thomar e Almourol. Esta torre serve agora de estarem nella os sinos da Igreja de Nossa Senhora.
Concorreo de todas as partes circunvizinhas innumeravel gente a ver a novamente apparecida imagem, a quem derão a invocação de Santa Maria das Dores, e é piamente crivel viria tambem a Rainha Santa, a qual mandou fazer ao pé da Igreja a Villa que ordenou se chamasse das Dores; e talvez que por esta mesma causa a mandasse fazer mysteriosamente em cruz como está».
Porém, e de acordo com António Baião, as referências a Isabel de Aragão não podem ser verdadeiras, pois o antigo município já existia no ano de 1201 e as suas terras envolventes nunca pertenceram à Rainha Santa. O que é certo é que a imagem santa continuaria a operar os seus milagres pois, de acordo com o Santuário Mariano, «no ano de 1697 ou 1698, ouve huma grande praga de pulgão & lagarta, & tão grande que deyxava assolada as vinhas & searas. Acudirão muytos povos à Senhora do Pranto de Dornes & a todos remediou a Senhora misericordiosamente; & a Villa & o seu termo ficou tão privilegiada & illesa que se não vio em as novidades della nada destes crueis animalejos. E alguns que se virão foy nos matos & em cima dos sargaços & tojos & outras plantas silvestres, em que os animaes não tocão».
Mas, pondo de parte as lendas e recorrendo à documentação, esta refere que, por volta de 1201, no foral de Arega que D. Pedro Afonso (filho de el-rei D. Afonso Henriques) atribuiu à referida vila, aparece entre as testemunhas presentes um Dommus Fiiz prelatus a Dornas, o que permite persumir que, já naquela época, existiria pelo menos uma capelinha nesta vila. No entanto, a partir de 1374, surgem já referências a uma igreja de invocação a Nossa Senhora, a qual, talvez por efeito da sua ruína, foi em 1453 reedificada (total ou parcialmente) e substituída por outra, sob o mandado de D. Frei Gonçalo de Sousa, descendente de um filho de D. Afonso III e comendador-mor de Dormes. Assim o comprova o escudo de armas do clérigo e a inscrição gótica incisa numa lápide que se conserva à direita do portal principal. Consta desta inscrição o seguinte: «Esta Igreja mandou fazer em louvor do Senhor Deos e da preciosa sua Madre Virgem Maria, o honrado cavaleiro Fr. Gonçalo de Sousa, vedor do senhor Infante D. Henrique e do seu concelho e seu alferes maior, comendador desta comenda e alcayde maior de Thomar, filho de Gonçaloannes de Sousa; a qual igreja se fez as suas próprias despezas por sua boa devoção, sem a elo sendo obrigado, e por memória mandou poer aqui estas suas armas. Deos por sua mercê lhe dê galardão de sua bemfeytoria. Amen. Era do Nascimento de N. Senhor Jesu Christo de 1453».
De acordo com um fragmento do Livro das Visitações feitas por Frei António de Lisboa, consta que a primeira visitação da igreja de Dornes se realizou em 22 de Junho de 1536, sendo então vigário Frei João da Cal, e que o visitador encontrou o corpo da igreja bem madeirado, a frontaria pintada, tendo no meio do cruzeiro um crucifixo com Nossa Senhora a um lado e S. João do outro, o Dia do Juízo e a Conceição de Nossa Senhora. Na mesma frontaria do cruzeiro existiam ainda dois altares, forrados a azulejos: um consagrado ao Espírito Santo, Nossa Senhora e S. João de vulto e outro a S. Sebastião (imagem pintada na parede), Santo Antão e São Paulo. No altar-mor havia já a imagem de Nossa Senhora do Pranto, com o seu filho nos braços.
Por esta altura, era o comendador-mor obrigado à fábrica da igreja e à conservação da capela e o concelho (isto é, os seus moradores) obrigado à conservação do corpo da igreja. O vigário tinha por obrigação a cura das almas e dizer missa todos os dias, recebendo o pé do altar. Mais tarde, em 1592, Frei Baltazar de Medeiros mandaria revestir o corpo da igreja de azulejos.
Já as Memórias Paroquiais de 1758 referem que, nesse mesmo ano, a igreja de Nossa Senhora do Pranto era constituída por seis altares: «o da dita Senhora, que hé o maior, e os latrais, o do Sacramento, o das Almas, a (sic) da Senhora do Rozario, o do Espirito Sancto e o do Senhor Jezus, e tem huma (sic) da Irmandade que se intitula das Almas.»
Do ponto de vista arquitectónico, a igreja de Nossa Senhora do Pranto, classificada como Imóvel de Interesse Público, foi sendo sucessivamente remodelada no decurso de várias campanhas construtivas, a primeira das quais operada no ano de 1453, como já foi referido.
Do ponto de vista arquitectónico, a igreja de Nossa Senhora do Pranto, classificada como Imóvel de Interesse Público, foi sendo sucessivamente remodelada no decurso de várias campanhas construtivas, a primeira das quais operada no ano de 1453, como já foi referido.
Da primitiva construção gótica restam, porém, poucos vestígios, nos quais se incluem o brasão de armas e a inscrição referente a D. Frei Gonçalo de Sousa, que se conservam na fachada principal do templo, a par de duas legendas sepulcrais existentes junto à verga do portal lateral sul. A planimetria obedece a um esquema longitudinal, de nave única, dotada de cobertura em telhado de duas águas, na junção das quais se eleva a cruz de Cristo ladeada por dois pináculos. Do corpo do templo destaca-se, na cabeceira, o volume da capela-mor, um pouco mais baixo que a nave central e coberta igualmente por telhado de duas águas; por sua vez, do lado esquerdo, acompanhando toda a lateral norte da igreja de Nossa Senhora do Pranto, mas recuada em relação à fachada principal, salienta-se um corredor de sacristia, coberto por telhado de uma única água e iluminado por meio de quatro janelas e de duas portas rectangulares, uma das quais localizada na fachada nascente e à qual se acede por meio de um lanço de escadas. Por sua vez, a fachada sul da igreja de Nossa Senhora do Pranto é constituía pelo correspondente portal lateral, antecedido por um quatro degraus, e duas pequenas frestas protegidas por vitrais.
A fachada principal, igualmente antecedida por um lanço de quatro degraus, é constituída por um portal de verga recta, sobrepujado por um entablamento de friso lavrado com rosetas e quadrângulos, e ladeado por duas voluptas; sobre a cornija, destacam-se duas esculturas talhadas em pedra calcária as quais, em minha opinião, se tratam de duas imagens do Calvário, correspondentes a Nossa Senhora e a São João Evangelista, complementadas pela cruz de Cristo que se ergue na empena. Encimando o portal, existe ainda um óculo preenchido por um vitral onde se encontra representada a Pomba do Espírito Santo. Termina a fachada principal, ladeada por cunhais, numa simples empena triangular.
Quanto à torre sineira, esta mantêm-se independente do templo e resulta da adaptação de uma antiga atalaia medieval conhecida por Torre de Dornes, na qual se conservam, em três arcos campanários, os sinos da igreja.
Já no interior da igreja e sobre a entrada principal eleva-se um coro-alto, enquanto do lado direito se rasga na parede lateral o baptistério, dotado da correspondente pia baptismal, obra talhada em pedra calcária e constituída por uma taça oitavada que se desenvolve a partir de um colunelo desprovido de pé ou anel. O tecto da nave central é madeirado em masseira, enquanto que o da capela-mor é em abóbada de caixotões, formada por quarenta e duas unidades. Relativamente ao pavimento, este é em parte recoberto por mosaico cerâmico, mas lajeado no interior da capela-mor. O acesso a esta capela é feito por intermédio de um arco cruzeiro de volta perfeita e desnível de dois degraus, rasgando-se do lado do Evangelho a entrada de acesso à sacristia.
1 comentário:
adorei obrigado ajudou-me mt no meu trabalho
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