sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Capelas de Paio Mendes

A povoação de Paio Mendes deve a sua fundação ao mestre da Ordem do Templo com o mesmo nome que aqui veio a instituir uma fortificação, provavelmente na sequência do movimento de Reconquista deste território às forças muçulmanas. Desta fortificação preservou-se a memória na referência ao lugar do Castelo, ainda hoje existente próximo da sede de freguesia. Pela sua importância estratégica, o povoado rapidamente foi convertido em comenda e manteve-se na posse dos Templários até ao ano de 1312, passando depois para a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo após o reordenamento administrativo da região. Integrada na comenda-mór de Nossa Senhora do Pranto de Dornes, a fundação da freguesia de Paio Mendes ocorreria somente na segunda metade do século XVI (c. 1567), mas manteve-se administrativamente subordinada à Vila de Dornes para além desta data, sendo integrada ao Concelho de Ferreira do Zêzere somente no ano de 1836. Actualmente, a Freguesia de Paio Mendes é constituída pelos lugares de Aldeia, Alqueidão, Casal da Cruz, Castelo, Costa, Courelas, Encharia, Ereira, Freixial, Fundo Darva, Galeguia, Gericó, Lameirancha, Lameiras, Levada, Outeiro da Frazoeira, Paio Mendes, Pau Mau, Porto Chão, Relvas, Salão de Cima, Soutos da Ereira, Vale de Lameiras, Vale Perro e Vales, distribuídos por uma área de aproximadamente 9,13 km² e na qual habitam cerca de 547 habitantes. À semelhança do que tem vindo a ser analisado nas crónicas precedentes, também a expressão do culto religioso foi igualmente intensa nesta freguesia pelo que, a par da igreja paroquial de São Vicente, disseminaram-se por alguns dos povoados de Paio Mendes as características capelas de expressão popular.
Na própria sede de freguesia encontramos o primeiro exemplar, a Capela dedicada a Santo António, culto frequente no nosso Concelho. A construção original remontaria muito provavelmente ao século XVII, mas os danos causados pela passagem do tempo justificariam a sua sucessiva remodelação. Não obstante, o esquema rústico primitivo manter-se-ia na simplicidade construtiva do pequeno templo.
Outras provas de ancestralidade fornece-nos o altar-mor, no qual se ostenta a imagem padroeira de Santo António com o Menino. Aí, enquadrado por um belíssimo nicho maneirista, que ainda conserva vestígios de policromia, mantém-se a seguinte inscrição: “Esta obra se fez em 1618”.
Próximo, uma belíssima pia de água benta talhada em forma de alcachofra remete-nos para a arte manuelina; trata-se muito provavelmente de um antigo elemento decorativo remanescente da construção original.
Igualmente remota é a Capela de Nossa Senhora da Conceição do lugar da Ereira, a qual é referida pelo Dr. Bartolomeu de Macedo Malheiro nas Notícias das Igrejas do Bispado de Coimbra (1726). De acordo com o cronista, o templo terá sido instituído por “Manoel Dias e seu filho, o Padre Livio Dias Ribeyro” e a “cuja fazenda delle se obrigava a renda pelos herdeyros da dita cappella”. Do ponto de vista arquitectónico trata-se de um pequeno templo reabilitado, de planta longitudinal e nave única, sendo a frontaria simplesmente constituída por uma porta enquadrada de janela e óculo. Do lado direito da empena ergue-se um campanário, em cuja cantaria do arco foram esculpidos motivos de inspiração barroca.
Já pelo interior, e contrariamente ao que é vulgar, a cobertura da nave central é em abóbada de caixotões, enquanto que na capela-mor esta é de um só plano, igualmente não madeirado. Por sua vez, o pavimento apresenta-se recoberto a mosaico cerâmico em toda a extensão do templo. Acede-se à capela-mor por meio de um arco cruzeiro de volta perfeita, encontrando-se neste espaço a imagem de Nossa Senhora da Conceição, preservada no interior de um nicho que se rasga na parede frontal.
Interessante no que se refere ao seu enquadramento é a Capela de São Luis das Courelas. Este templo, apesar de se encontrar adossado à Quinta das Courelas (construção particular integrada no casario do lugar com o mesmo nome), é citado na documentação mais antiga como pertencente ao povo e, de facto, a entrada principal volta-se para a via pública, apesar de toda a construção sugerir que faz parte integrante de um conjunto edificado de maiores dimensões. A capela data provavelmente do ano de 1628, de acordo com uma data existente na verga do portal e, actualmente, nela não se pratica regularmente o culto. Do ponto de vista arquitectónico trata-se de um pequeno templo aldeão, de planta longitudinal e nave única, dotado de uma cobertura em telhado de duas águas e na junção das quais se ergue, pelo lado da frontaria, uma Cruz de Cristo. A fachada principal é constituida por uma porta rectangular, antecedida por um lanço de três degraus, rasgando-se do lado esquerdo da entrada um óculo polilobado.
As dúvidas relativamente às questões de propriedade intensificam-se quando abordamos o caso da Capela de Nossa Senhora do Amparo, templo actualmente integrado no complexo edificado da Quinta da Eira. Sabe-se que, primitivamente, a capela pertenceria ao povo e assim o refere o Dr. Bartolomeu de Macedo Malheiro em 1726; porém, as Memórias Paroquiais de 1758 citam já o referido templo como pertencente a Jacinta Camelo de Carvalho, que o terá comprado ao Bispado de Coimbra. Mais tarde, em 1936, o imóvel é mandado reconstruir pelo Dr. Eduardo Augusto da Silva Neves, mas apenas em 1938 reabriria ao culto. Da construção original, datada do ano de 1629, manteve-se a singeleza do traçado longitudinal de nave única, dotado de cobertura em telhado de duas águas. A frontaria é simplesmente constituída por uma porta rectangular, ladeada por duas janelas quadradas e encimada por óculo. Do lado direito da empena ergue-se um pequeno campanário, sob o qual foi aplicado um relógio de sol de espelho recortado e assente em mísula.
Igualmente reconstruída foi a Capela de Santo Antão da Quinta do Cerquito, antiga propriedade dos comendadores de Dornes que aí detinham os seus aposentos. De acordo com um tombo da Vila de Dornes datado de 1504, por esta altura a herdade era constituída por um assentamento de casas em que se se incluíam a habitação do comendador, celeiro, covas de pão, adega, casas onde se alojavam os azeites, estrebaria, curral e vários anexos. Em torno destas dependências desenvolvia-se um amplo circuito de terras de semeadura, vinhas, olivais, pomares e a grande Mata e Souto da Ordem de Cristo. Por sua vez, junto das dependências habitacionais, localizava-se ainda uma ermida de invocação a Santo Antão, a qual havia sido mandada erigir por D. Isabel de Sousa, irmã do importante comendador-mór de Dornes, Dom Frei Gonçalo de Sousa. Mais tarde, num tombo de 1753, inventariou-se o espólio da referida ermida, do qual se destacava a grande imagem esculpida em pedra calcária do ermida São Antão, que nessa altura figurava sobre a mesa de altar. Ainda hoje esta escultura subsiste junto da entrada do templo, ainda que bastante mutilada.
A partir das fundações reminescentes optou-se pela reconstrução da capela, tendo por base um antigo esboço a carvão da autoria de Alfredo Keil. Actualmente, esta apresenta-se como um pequeno edifício de planta quadrada, de pé direito pouco elevado e cobertura em telhado de suas águas, sendo a fachada principal constituída por uma porta, janela e óculo e rematada por uma platibanda semi-circular. A mesma sorte não teve a Capela de São Francisco Xavier, outrora existente no lugar do Outeiro, e da qual não se puderam salvaguardar as respectivas fundações, permanecendo actualmente incógnito o seu concreto local de instituição. Não obstante, o Doutor Bartolomeu de Macedo Malheiro adianta-nos algumas informações a respeito deste templo, ao referir que este havia sido mandado fazer pelo Capitão António Carvalho Garcia, embora pertencesse aos moradores do lugar da Ereira.

Igreja de São Vicente de Paio Mendes

A Igreja de São Vicente localiza-se no centro do lugar do Castelo, na freguesia de Paio Mendes. O templo remonta muito provavelmente ao ano de 1518, de acordo com a data inscrita num antigo portal, hoje desaparecido, e de que nos dá notícia o tombo de 1607 da Vila de Dornes. De acordo com o referido documento, a capela-mor tinha 12 côvados de comprimento e outros 12 de largura, sendo forra a tábuas de castanho; dela se passava para a sacristia, guarnecida de armários de castanho. Por sua vez, o corpo da igreja tinha de comprimento 36 côvados e de largura 18, era coberto de telha vã e estava por lajear. Na empena da parede da porta principal possuía um campanário com o seu pequeno sino de metal. Para além disso, pelo interior, mais concretamente no altar de São Francisco, existia a seguinte inscrição, hoje desaparecida, reveladora do nome dum instituidor da capela vinculada: «Sepultura de Manoel Vas e de sua mulher Maria Mendes e de seus descendentes». De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, por essa mesma altura a Igreja de Paio Mendes possuía cinco altares: «de S. Vicente, de Nossa Senhora do Rozario, do Espirito Santo, do Senhor Jezus e de S. Francisco; não tem naves nem irmandades».
Actualmente, o templo já pouco preserva do seu traçado arquitectónico original pois, ao longo dos séculos, foi sendo sucessivamente remodelado por várias campanhas construtivas, uma das mais importantes desenvolvida no ano de 1617 e cuja datação aparece inscrita num dos esboços de Alfredo Keil referentes a esta igreja. Aos dias de hoje chegou uma estrutura eclética, de clara inspiração maneirista, sobretudo na disposição dos espaços e volumes, cuja organização obedece à tradicional planimetria longitudinal de nave única. A frontaria, à semelhança da maioria das igrejas paroquiais estudadas, é constituída por um simples portal rectangular, a que se sobrepõe uma janela. Termina a fachada num empena triangular, encimada pela cruz de Cristo, mas interrompida do lado esquerdo pelo volume avançado de uma torre sineira, constituída por um único registo superior onde se rasgam quatro campanários. Acede-se a esta torre, provida de cobertura piramidal, por um lanço de escadas que se desenvolve na sua fachada nascente. Quanto a outras massas salientes do corpo central, refiram-se as duas salas de sacristia que, após cada um dos respectivos portais laterais, se destacam nas fachadas norte e sul do templo, ambas dotadas de cobertura em telhado de uma única água, enquanto que na nave essa cobertura é de duas águas.
Pelo interior, iluminado por duas janelas rectangulares em cada uma das laterais, o pavimento é recoberto a mosaico cerâmico, existindo um passadiço central lajeado que se desenvolve desde a entrada principal até à capela-mor. Acede-se a este espaço por meio de um arco cruzeiro de volta perfeita; no entanto, a cantaria interrompida ao nível da chave do arco sugere que a cobertura da nave central terá descido. Esta é constituída por três planos, não madeirados, enquanto que na capela-mor é abobadada. Como em qualquer igreja paroquial, também na matriz de São Vicente de Paio Mendes existem vários altares, consagrados a diferentes oragos, e que se dispersam pelas laterais, arco cruzeiro e capela-mor do templo. Assim sendo, e ao nível das laterais, existem dois altares, colocados frente a frente, e que se aproximam na sua organização retabular. Ambos são constituídos por um nicho central que se rasga na parede de adossamento, emoldurado por um arco de volta perfeita executado em cantaria. No altar da lateral sul, este arco é ainda enquadrado por um friso entablado que se ergue sobre duas pilastras. Outro factor de aproximação diz respeito ao revestimento azulejar que preenche o frontispício de ambos os altares, e que se apresenta como uma continuidade do silhar aplicado aos muros interiores do templo: trata-se de um tapete de produção industrial, executado nos tons de azul e branco, e que obedece a um módulo de repetição de 2X2/2 unidades; por sua vez, no altar da lateral sul, o revestimento azulejar estende-se por todo o nicho central.
Relativamente ao culto prestado em cada um deste altares, o da parede lateral norte é consagrado a Cristo Crucificado, imagem de vulto talhada em madeira posteriormente policromada, que se sobrepõe a uma pintura executada a óleo sobre tábua. A composição refere-se ao Suplício das Almas no Purgatório que, dirigindo os olhares para Jesus, mas também para Nossa Senhora e São Miguel que o ladeiam, aguardam a sua Salvação. Numa cartela localizada no limite inferior da composição encontra-se uma data referente ao ano de 1629, a par de uma inscrição cujo significado não é perceptível.
Quanto ao altar da parede lateral norte, este é consagrado a São Francisco de Assis e à Santíssima Trindade (0.770m altura), tratando-se esta última imagem de uma obra esculpida em pedra e datada do século XVI, sendo, por essa razão, coetânea da época de fundação do templo.
  
Já no arco cruzeiro localizam-se outros dois altares, ambos executados em talha policromada, sendo o do lado do Evangelho consagrado a Nossa Senhora com o Menino, imagem de roca de grandes dimensões, enquanto que no do lado da Epístola é cultuado o Sagrado Coração de Jesus.
No retábulo-mor, executado em talha dourada e policromada, apenas figura uma recente imagem de São Vicente, já que os padroeiros originais - São Vicente e São Sebastião, obras datadas do século XVI - foram furtados no ano de 2005. A imagem primitiva de São Vicente era esculpida em pedra e media 1m de altura. O espaço da capela-mor é ainda decorado, ao nível da abóbada, por uma pintura mural alusiva ao padroeiro.
Por fim, devem ainda de ser referidas duas obras de cantaria que se encontram no interior deste templo. A primeira, localizada na parede lateral norte, diz respeito a um púlpito, cujo cálice cilíndrico parte de um colunelo provido de anel que serve de pé; a segunda encontra-se na sala de sacristia sul, e consiste num pequeno lavatório renascentista que apresenta talhada, de forma bastante rude, a imagem de um querubim. De acordo com o Inventário Artístico de Portugal, integra o espólio deste templo um Cruz Processional (1.020m altura) de prata do século XVI, com ornamentos gravados no estilo da época, a bola ou nó decorada com cabeças de anjo e os remates da haste e braços torneados delicadamente; porém, a imagem de Cristo que está aposta na Cruz é moderna.

Capelas de Igreja Nova do Sobral

Nem sempre a Freguesia de Igreja Nova do Sobral pertenceu ao concelho de Ferreira do Zêzere. Os mais antigos registos referem que, inicialmente, o povoado do Sobral pertencia à Freguesia de São Pedro de Alviobeira, apartada da Igreja de Santa Maria de Areias a 3 de Dezembro de 1592, por carta de D. Diogo Pinheiro, vigário geral da Ordem de Cristo. São Pedro de Alviobeira passou então a estar integrada na Comarca de Tomar e, por volta de 1608, Sobral é instituída freguesia independente. A importância do povoado era tal que, a partir de Março de 1609, se procede à construção de um novo templo de invocação ao Espírito Santo, daí derivando o nome de Igreja Nova do Sobral atribuído a esta freguesia. Igreja Nova do Sobral pertenceu a Tomar até ao dia 24 de Outubro de 1855, data após a qual seria integrada no concelho de Ferreira do Zêzere. Actualmente, é constituída pelos seguintes lugares: Água-Todo-O-Ano, Azenha Nova, Casal da Estrada, Casal da Fonte Nova, Casal da Fonte do Sobral, Casal Novo, Castelaria, Couço Cimeiro, Couço do Meio, Couço dos Pinheiros, Couço Fundeiro, Hortas, Igreja Nova, Lamaceiros, Lameiras, Mata, Matos, Meneixo, Mourolinho, Paieres, Pegados, Penedinho, Regueiras, Ribeira Barqueira, Salgueiral, Serra de Santa Catarina, Serrada Nova, Sobral e Tanoeiros. Dos exemplares de arquitectura religiosa reminiscentes nesta freguesia contam-se três, para além da Igreja Paroquial do Espírito Santo, já analisada na crónica anterior: a Capela de Nossa Senhora do Ó no Sobral, a Capela de Nossa Senhora das Candeias no Mourolinho e a Capela de Santa Catarina na Serra com o mesmo nome.
A Capela de Nossa Senhora do Ó localiza-se no lugar do Sobral e corresponde a um edifício reabilitado de planta longitudinal e nave única, dotada de cobertura em telhado de duas águas. Do corpo central destaca-se o volume correspondente à capela-mor, mais baixa e estreita. A frontaria é composta por uma simples porta rectangular, encimada por uma fresta cruciforme enquanto que, do lado esquerdo da empena, se eleva um campanário. Por sua vez, também na lateral norte se rasga uma porta sobrepujada por uma cruz de Cristo, elemento esculpido em material pétreo e embutido na parede.
Já pelo interior o destaque vai para a capela-mor onde, sobre o altar, foi adossado um nicho de claro lavor renascentista, que ainda preserva vestígios de policromia avermelhada. Na cantaria da base e das pilastras repetem-se as flores circunscritas, os losangos e os corações esculpidos em alto relevo; por sua vez, no friso, a par dos elementos fitomórficos, surgem esferas e filacteras, enquanto que nos tímpanos aparecem dois medalhões.
 
Ao espaço interior do nicho, decorado por uma abóbada raiada, foi adaptada uma vitrina, na qual se conserva a imagem padroeira: Nossa Senhora da Expectação que, ao contrário do que se poderia supor, não ostenta nenhum ventre proeminente. Junto ao orago conserva-se ainda uma imagem alusiva à Santíssima Trindade (0.895m altura), obra executada em madeira policromada e datada da segunda metade do século XVII.
No Mourolinho localiza-se um outro templo, consagrado a Nossa Senhora das Candeias, mas que se apresenta um pouco modificado relativamente ao seu plano arquitectónico original, em virtude de sucessivas campanhas reconstrutivas. Do volume central, que mantém o característico traço longitudinal de nave única, destacam-se dois volumes: um alpendre que antecede a frontaria e uma pequena sala de sacristia que se desenvolve pela lateral norte do templo.
Pelo interior, a cobertura é madeirada em masseira e o pavimento recoberto a mosaico cerâmico, no qual existe um passadiço central lajeado que progride desde a entrada principal até à capela-mor. O acesso a este espaço é realizado por intermédio de um arco cruzeiro de volta perfeita e desnível de um degrau.
Aí, num pequeno nicho de cantaria policromada, preserva-se a imagem de Nossa Senhora das Candeias, cuja iconografia repete os mesmos atributos ostentados pela Nossa Senhora da Purificação: transportada por um coro de querubins, a imagem apresenta-se coroada e adornada por vestes esvoaçantes, enquanto que na mão direita segura o Menino e na esquerda um incensório.
Por fim, no lugar do Pé da Serra, seguindo ao longo de um caminho florestal, chega-se à Capela de Santa Catarina. Este pequeno templo denuncia uma marcada horizontalidade, destacando-se do corpo central, de nave única, os volumes correspondentes à capela-mor, mais baixa e estreita e, pela lateral sul, à sala de sacristia. Quanto ao sistema de coberturas, mantém-se o telhado de duas águas na nave central e capela-mor, e de uma única água na sacristia. Por sua vez, a frontaria, que termina em empena triangular, é simplesmente constituída por uma porta rectangular, encimada por uma fresta cruciforme e ladeada por duas pequenas janelas quadrangulares.
Relativamente ao interior do templo, este é dotado de cobertura madeirada em masseira e pavimento lajeado. Na nave central, e adossado à lateral norte, destaca-se um pequeno púlpito de cálice balaustrado em madeira, que se ergue sobre uma base pétrea.
Um arco cruzeiro de volta perfeita dá acesso à capela-mor onde, sobre o altar, um Cristo Crucificado é ladeado pelas imagens padroeiras de São João Baptista e de Santa Catarina (0.745m altura), ambas talhadas em pedra e originárias de uma oficina popular do século XVI.

Igreja do Espírito Santo de Igreja Nova do Sobral

Fundada no ano de 1606, a Igreja do Espírito Santo de Igreja Nova do Sobral tem sido modificada ao longo dos séculos por diferentes campanhas de obras, mais ou menos profundas. A planimetria do imóvel obedece a um esquema longitudinal, de nave única, dotada de cobertura em telhado de duas águas. A fachada principal, de traço claramente maneirista, é rematada por uma empena triangular e apenas ostenta um portal de verga recta, a cujo entablamento se sobrepõe uma grande janela rectangular. Do lado direito, e saliente relativamente a esta fachada, foi adossada uma torre sineira, composta por dois registos, sendo o primeiro constituído, do lado nascente, por um lanço de escadas que permite aceder, simultaneamente, quer à torre, quer ao coro-alto que se ergue, no interior do templo, sobre o pórtico principal. Sob essa escadaria, rasga-se uma porta de lintel semicircular, a partir da qual se acede a uma pequena arrecadação. Já o segundo registo da torre é constituído por quatro arcos campanários, sendo o volume rematado por meio de uma cobertura piramidal.
Na lateral sul do templo, para além da torre sineira, destacam-se os volumes de um corredor e sala de sacristia, dotados de acesso pelo exterior e iluminados por meio de duas janelas rectangulares. São estas massas dotadas de cobertura em telhado de uma única água, sobre a qual se ergue um pequeno campanário disfuncional provido de um relógio de sol. Entre a escadaria de acesso à torre campanária e o corredor de sacristia rasgam-se uma janela e um portal lateral rectangular, cujo lintel termina em entablamento, ao qual se sobrepõe, por sua vez, um frontão invertido que no tímpano tem esculpida uma flor. Por sua vez, também na lateral norte do templo, igualmente provida de portal, se destacam os volumes correspondentes ao baptistério e a uma outra sala de sacristia que serve de apoio à capela-mor.
Pelo interior, a igreja do Espírito Santo apresenta cobertura madeirada em três planos, sendo o pavimento lajeado. O acesso à capela-mor é realizado por intermédio de um arco cruzeiro de volta perfeita e desnível de dois degraus. Também este espaço é iluminado por meio de uma janela localizada na lateral direita. O pavimento é recoberto a mosaico cerâmico, enquanto que a cobertura é abobadada.
  
Constituem o património integrado do templo cinco altares, um púlpito e um baptistério, para além de várias obras escultóricas e pictóricas. O baptistério localiza-se na lateral norte e é dotado de pia baptismal de taça oitavada, que se desenvolve a partir de um colunelo assente sobre anel. Ao portal lateral segue-se, adossado à mesma parede, um púlpito, obra esculpida em pedra calcária de cálice subdividido em caixotões, a que se acede por meio de um lanço de escadas.
 
Também na lateral norte, e seguidamente ao púlpito, destaca-se um retábulo produzido em talha policromada. É este altar consagrado a Nossa Senhora do Rosário, imagem de roca de grandes dimensões, provida de vestes e de uma farta cabeleira, sobre a qual dois anjinhos descem uma coroa de rosas. Na parede oposta, localiza-se um outro altar semelhante ao anterior, mas antes consagrado a Cristo Crucificado, imagem de vulto produzida em madeira policromada que se sobrepõe a uma pintura executada a óleo sobre tábua e que é representativa do suplício das Almas no Purgatório que, olhando para o Redentor, aguardam a sua salvação.
 
Por sua vez, no arco cruzeiro, encontram-se outros dois altares, cujo tratamento retabular é idêntico: o do lado do Evangelho é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus, enquanto que no do lado da Epístola se cultua Nossa Senhora de Fátima.
Relativamente ao altar-mor, este é ocupado por uma magnífica pintura executada a óleo, provavelmente maneirista, mas cujo material de suporte não pude avaliar. Nela é representado o tema do Pentecostes, ou seja, a descida do Espírito Santo, na forma de línguas de fogo, sobre Nossa Senhora e os Apóstolos. É a obra pictórica ladeada por duas pequenas imagens alusivas a Santo António com o Menino (lado do Evangelho) e a São Sebastião (lado da Epístola) que, por sua vez, sobrepujam duas portas através das quais se acede a uma dependência localizada por detrás do altar-mor. Quanto à abóbada da capela-mor, esta foi decorada por pinturas murais que, em Trompe-l’oeil, pretendem reproduzir o Firmamento onde vários anjos ostentam os instrumentos da Paixão, enquanto que, ao centro, outros dois adoram o Santíssimo em exposição. Por fim, uma última palavra deve ser dirigida a respeito do revestimento azulejar que adorna este templo. De acordo com o volume Tesouros Artísticos de Portugal, editado em 1976 pelas Selecções Reader’s Digest, tal revestimento seria do tipo enxaquetado, constituído por azulejos azuis e brancos do século XVII. Actualmente, tais azulejos foram substituídos por outros, de produção industrial e reduzida importância histórica e artística, que em nada se assemelham aos exemplares que, em tempos, revestiram o interior deste templo.